AS MUSICAS OS TAXISTAS

Eu amo os taxistas. Era um jeito que eu tinha de experimentar de fato alguns minutos de vários tipos. Já tentava decifrar assim que fechava a porta e escuta a música que tocava. Começava a puxar assunto a partir disso, perguntava quem estava cantando e quando percebia a música já estava alta e o taxista cantando e falando o que mais gostava de ouvir. O que mais aumentou o volume foi o do Molejo. Descobri quem é o vocalista. Descobri que leque, leque, leque também tocava muito. Não só tocava muito como as pessoas num momento de silencio falavam “ahhh leque, leque, leque”.

Teve também aquele taxista super educado que quase sempre era o que me levava para casa quando eu saia para uma cerveja no Rio Vermelho. Ele colocou uma música que me fez chorar. Chorei muito. Tentava não fazer barulho. Ele quase não falava. Em um outro dia, foi outra música. Dessa vez me senti na obrigação de chorar. Chorei. Tenho facilidade.

Mas não podia deixar de lado aquele outro taxista que chorou. Sim, ele chorou, eu, certamente acompanhei. Choramos. Ele tinha acabado de ver um atropelamento. Estava em choque. Eu que não acredito em Deus, rezei com ele de forma bem verdadeira. Lembrei que tinha esquecido a carteira em casa e pedi para ele voltar. Voltamos e nisso ele falou que ia colocar uma música bonita pra gente. Colocou Vivaldi. Achei que combinou muito com aquele momento. Comentou que os seus passageiros acham que é música de velório. Achei sintomático.

Os taxistas que preferem ir pela orla porque é mais longe,

os taxistas que escutam muitas músicas,

os taxistas que escutam os jogos do Vitória e Bahia,

os taxistas que tem mais de ano sem ir à praia.

 

 

Levam seus passageiros mas não entram.

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